Análise: Banco Central precisa esclarecer caso Neon

BRASÍLIA – O mundo das fintechs acordou assustado nesta sexta-feira, 4. A liquidação extrajudicial do Banco Neon pegou o mundo da internet de surpresa, especialmente por ocorrer horas após uma parte da empresa receber aporte de R$ 72 milhões. Por se tratar da primeira intervenção do Banco Central em uma instituição da nova geração, a situação exige cuidado redobrado para o esclarecimento da população. Se isso não for feito, teremos o risco de uma onda de rejeição às fintechs.

A liquidação do Neon foi anunciada em um comunicado de cinco parágrafos divulgado pelo Banco Central por volta das 7h40. O texto diz no penúltimo parágrafo que “as irregularidades encontradas no Banco Neon não estão relacionadas com a abertura e movimentação de conta digital ou com a emissão de cartões pré-pagos”.

Apesar dessa informação no comunicado, não está claro qual será efetivamente o tratamento dado às contas digitais do Neon (estão no banco ou na empresa de pagamentos?), aos investimentos (os CDBs, que eram chamados de “objetivos”) ou aos cartões de crédito da casa. A situação parece ainda mais delicada diante do perfil dos clientes da instituição: jovens, que não têm experiência no relacionamento bancário e costumam se informar por canais diferentes de comunicação.

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O Banco Central destacou no comunicado que o Neon era pequeno e tinha apenas 0,0038% dos ativos do sistema bancário. O tamanho do banco na internet, porém, parece ser bem diferente. Horas depois do anúncio da liquidação, o termo “Banco Neon” já aparece como sexto principal assunto discutido no Twitter no Brasil. Na rede social, aumentam as perguntas, demonstrações de preocupação e o desejo de saque imediato de todo dinheiro dos clientes. É o sinal da velha corrida bancária em tempos de redes sociais.

Para piorar, o Banco Neon tem respondido aos clientes pelo Twitter dizendo que a situação está normal, os cartões de débito e crédito continuam operando normalmente e só há um momento de “manutenção” do aplicativo. “Em breve faremos um anúncio a respeito desta notícia. Os cartões débito/crédito de vocês continuam operando perfeitamente, apenas o aplicativo está em manutenção. Quando voltar, aviso no app!”, escreveu o perfil verificado do banco no Twitter por volta das 9h – já sob a tutela do BC.

Como está no controle do banco neste momento, o Banco Central precisa urgentemente esclarecer a situação. O pior risco é que a generalização coloque todas as fintechs na mesma história e o setor sofra com a desconfiança dos consumidores. Em um País com o mercado bancário concentrado e com a luta do próprio Banco Central para reduzir spreads, é exatamente o contrário do que deveria acontecer.