Bolsonaro sobre diplomacia: ‘Quando a saliva acaba, entra a pólvora’

Em discurso durante a formatura de novos diplomatas graduados pelo Instituto Rio Branco, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) falou sobre a sua visão das relações entre as Forças Armadas e a diplomacia em uma democracia. Ressaltando sua origem militar – ele é capitão da reserva -, Bolsonaro disse aos formandos ver as duas instituições como “opostas” mas “complementares” em um regime democrático.

“Quando os senhores falham. entramos nós, das Forças Armadas. E confesso que torcemos e muito para não precisar entrarmos em campo”, disse o presidente, colocando o uso da força militar como recurso a ser usado após o fracasso de negociações diplomáticas.

Instado a explicar a declaração, em entrevista a jornalistas, o presidente disse que “quando a saliva acaba, entra a pólvora”. Bolsonaro negou estar falando sobre a crise na Venezuela, com os movimentos da oposição para derrubar o ditador Nicolás Maduro. Mais cedo nesta semana, ele havia afirmado que o papel do Brasil é ir apenas “até o limite do Itamaraty”, rejeitando chegar às “vias de fato”.

Hoje, avaliou que “se não enfraquecer o Exército da Venezuela, Maduro não cai”, sem explicar se o Brasil pode ter alguma participação em uma ação concreta nesse sentido. Apresentado pelo pai como alguém com o “dom” para os assuntos internacionais, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, avaliou que “Maduro não vai sair” porque “ditadura só acaba na base da força”.

Argentina

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Em sua fala, Bolsonaro voltou a comentar as eleições na Argentina, em outubro deste ano. O presidente disse que os vizinhos são “a preocupação de todos nós”, em razão de “quem poderá voltar a comandar aquele país”. É uma referência à ex-presidente e senadora Cristina Kirchner, provável candidata ao pleito e que lidera as pesquisas de intenção de voto.

Muito próxima ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e próxima à corrente política de esquerda que se convencionou chamar de bolivarianismo na América do Sul, Cristina poderia, na avaliação do presidente brasileiro, transformar a Argentina em algo semelhante ao país de Maduro. “Não queremos, e acho que o mundo todo não quer, uma outra Venezuela mais ao sul do nosso continente”.

Diretriz

No discurso, o presidente encaminhou a “diretriz” que ele, como presidente, recomenda aos jovens diplomatas: a de buscar “um Brasil aberto aos grandes fluxos econômicos, capaz de conectar-se aos grandes centros tecnológicos, capaz de atrair investimentos e abrir mercados”.

Em um tom semelhante ao do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, para quem o Itamaraty se afastou em parte dos valores da população brasileira, Bolsonaro orientou os recém-formados a que “busquem compreender o Brasil e defendê-lo”. O presidente também elogiou a escolha, pelos estudantes, de Aracy Guimarães como a patrona da turma. Durante a Segunda Guerra Mundial, Aracy facilitou a fuga para o Brasil de judeus perseguidos pelo regime nazista da Alemanha.

(Com Estadão Conteúdo)