Hospital Regional de Gurupi adota práticas de parto humanizado

Aquela velha imagem da mulher grávida chegando ao hospital e sendo encaminhada direto para a sala de parto, sem a garantia do atendimento aos seus direitos e suas vontades, tem cada vez menos espaço dentro do atendimento atual da rede hospitalar em todo o país, muito disso em função da adoção das técnicas do parto humanizado, momento em que profissionais da área da saúde prestam um serviço diferenciado às mulheres gestantes, ensinando técnicas de relaxamento e amenização da dor, além de tratarem com respeito as vontades individuais de cada futura mãe, garantindo o cumprimento dos seus direitos, como por exemplo, a escolha de uma pessoa para acompanhá-la durante o momento do parto.

No Tocantins, essa prática vem sendo implantada em vários hospitais do Estado e, recentemente, chegou ao Hospital Regional de Gurupi (HRG). Uma equipe formada por 12 enfermeiras especialistas na área de obstetrícia estão auxiliando as mulheres que procuram a maternidade do HRG, garantindo um melhor atendimento à gestante e ao seu bebê. “O parto humanizado é preconizado pelo Ministério da Saúde, e nós estamos implantando essa técnica aqui em Gurupi, em parceria com o Hospital e Maternidade Dona Regina, de Palmas, que hoje é referência na realização desse procedimento no Tocantins. As enfermeiras obstetras foram contratadas recentemente e estão passando por um processo de capacitação. Nós acreditamos muito nessa ideia e sabemos que isso vai agregar mais valor ao nosso atendimento”, justificou a diretora-geral do HRG, Maria Cândida Brum.

Conforme os dados, em janeiro deste ano, o HRG registrou 131 partos e; no mês de fevereiro, 130, perfazendo uma média diária de cerca de cinco partos. Desses números, 50% dos bebês nasceram de maneira cesárea e os outros 50% de forma normal. “É preciso ressaltar que, até fevereiro, ainda não tínhamos adotado a técnica do parto humanizado aqui no HRG. Com essa adoção, esperamos reduzir o número de partos cesarianos e aumentar os de maneira normal”, complementou a diretora-geral.

De acordo com uma matéria publicada pelo jornal O Estado de São Paulo (Estadão) no mês de fevereiro, a Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou novas recomendações sobre padrões de tratamento e cuidados relacionados às mulheres grávidas. O objetivo é reduzir as “intervenções médicas desnecessárias”, já que mais da metade dos nascimentos ocorrem por meio de cesáreas. “A crescente medicalização de um processo normal de nascimento está minando a capacidade das mulheres de dar a luz e impactando de forma negativa sua experiência no nascimento”, afirmou Nothemba Simelela, diretora-geral assistente da OMS. Para ela, não há necessidades de receber intervenções adicionais para acelerar o parto se mãe e filho estiverem em boas condições.

Atenção e Cuidado

Conversamos com duas enfermeiras que estão trabalhando nesse processo de humanização dos partos no HRG. Na entrevista, elas explicaram como atuam e quais são os benefícios do hospital ter adotado essa técnica. “A gente trabalha com a questão do empoderamento dessas mulheres, mostrando, a elas, os benefícios do parto normal, quais são as vantagens que ele traz, não só fisiologicamente, mas também emocionalmente para a mãe, o bebê e a família no seu contexto geral. É um parto que envolve toda uma assistência multiprofissional com enfermeiras obstetras, médicos obstetras e pediatras, equipe técnica de enfermagem, psicólogos, fisioterapeutas e  fonoaudiólogos, para que essa mulher tenha a melhor assistência possível, de forma humanizada, dando a abertura para ela dizer o que quer naquele momento. É preciso lembrar que nasce um filho, mas também nasce uma mãe naquele momento, trazendo uma mudança total no contexto familiar”, explicou Lorrayne Michele Dantas de Oliveira, que trabalha há oito anos no HRG e há pouco mais de um ano e meio na função de enfermeira obstetra, na qual se especializou recentemente.

“A gente tenta humanizar o parto deixando com que a mulher faça as suas escolhas, que ela tome as decisões dela e a equipe apenas assista e possa fornecer todo aquele suporte que ela anseia, para que ela tenha um parto agradável, feliz, que a dor possa ser inibida e apagada naquele momento. Normalmente, o parto é um processo doloroso, mas dura pouco tempo e, se você consegue desenvolver práticas que faça com que essa dor se torne menos relevante em relação ao nascimento, então essa mulher vai ter uma lembrança boa daquele momento”, complementou Lorrayne Michele Dantas de Oliveira.

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Já a enfermeira Silvana Cardoso destacou como esse procedimento funciona na prática. “A paciente chega ao hospital e a gente a recepciona e deixa ela escolher a forma de como ela quer ter o seu parto. Ela também pode escolher o acompanhante que ela quer ao lado dela; se ela tem interesse em ter uma doula [assistente de parto, sem necessariamente formação médica]; a posição que fica melhor para que ela venha a ter essa criança, entre outros. O nosso trabalho começa desde o momento em que a paciente entra no pré-parto”, pontuou.

Pacientes aprovam

Durante a reportagem, encontramos duas mães de primeira viagem que realizaram os seus partos nessa quarta-feira, 7. Elas contaram com o suporte e apoio da equipe do HGR, garantindo que seus partos fossem humanizados e sem maiores preocupações. “Eu cheguei aqui ontem [7 de março] sentindo muita dor, e as enfermeiras me ajudaram bastante, principalmente a relaxar e ficar menos tensa. Elas me colocaram pra fazer algumas técnicas com uma bola, depois fiz agachamentos. Esse apoio me passou muita segurança”, disse Letícia Pereira da Costa, mãe da pequena Sofia Emanuele, de apenas um dia de vida.

Quem também aprovou a implantação da técnica do parto humanizado no HRG foi Lucivânia Alencar Marinho, mãe do bebê Heitor Marinho, que nasceu prematuro. “Foi um momento difícil, porque meu filho nasceu fora do tempo, mas o atendimento que recebi aqui fez com essa angústia fosse diminuída e que minha segurança aumentasse”, concluiu.

HRG

O HRG fica localizado na região sul do Tocantins, e é considerado uma unidade de Porte III, sendo referência para 18 municípios: Aliança do Tocantins, Araguaçu, Alvorada, Cariri do Tocantins, Crixás do Tocantins, Dueré, Figueirópolis, Formoso do Araguaia, Jau do Tocantins, Lagoa da Confusão, Palmeiropólis, Paranã, Peixe, Sandolândia, São Valério, São Salvador, Sucupira,Talismã.

O HRG conta com 129 leitos divididos em 19 leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI), 20 na clínica médica, 21 na clínica cirúrgica, 18 na pediatria, 20 na obstetrícia/pré-parto/centro obstétrico, 10 no Pronto-Socorro Infantil, 16 no Pronto-Socorro Adulto, seis no berçário patológico e ainda quatro leitos na sala de pré-parto. O hospital conta com dois centros cirúrgicos, divididos em centro cirúrgico geral, com quatro salas; e centro cirúrgico obstétrico, com três salas.