Família culpa Estado por morte de criança com suspeita de Calazar em Dianópolis

A morte de uma criança de dois anos de idade, após passar por atendimento no Hospital Regional de Dianópolis, na região Sudeste do Estado na madrugada da última sexta-feira, 11, com suspeitas de Leishmaniose visceral (Calazar) ganhou destaque no Estado após a família registrar boletim de ocorrência contra o atendimento no Hospital, denunciando possível negligência médica e demora no atendimento.

O portal Tocantins Agora apurou que a família, amigos e população estão revoltadas com o fato que ganhou repercussão nacional, contudo, informa um texto da famíla que circula em grupos de whatsapp, muito do que se falou na grande imprensa foi distorcido.

Veja o texto na íntegra:

No dia 10 de Janeiro, quinta-Feira a minha irmã Beatriz Alves Cirqueira foi para o hospital Regional de Dianópolis com dor de barriga, diarreia, febre e vômito. Ela foi atendida pela médica, tomou soro e foi liberada por uma enfermeira pois no hospital não tinha médico pediatra neste dia.

No sábado dia 12 ela retornou ao hospital com os mesmos sintomas, ficando de observação. Logo depois foi internada pelo médico pediatra Danilo M. de Morais.

Por volta das 3 horas da manhã teve seu quadro agravado. O Hospital Regional de Dianópolis não tinha ambulância para a sua transferência para Palmas então foi solicitado que uma ambulância móvel da capital viesse para cá. Isso aconteceu por volta das 4 da manhã.

Beatriz veio a óbito por volta das 8h:40min logo em seguida a ambulância chegou, mas já era tarde demais.

O hospital afirma que ela chegou em estado grave mas isso não foi o ocorrido. Ela chegou com dores abdominais é não foi feito a ultrassom pois não tinha médico para realizar o exame.

O hemograma foi feito em um laboratório particular pois o hospital ia fazer o exame só no dia seguinte.

Peço a ajuda de todos para compartilhar pois demos uma entrevista para o jornal mas a história real foi distorcida.

Agradecemos ao Médico Danilo por toda a assistência dada por ele, pois fez o possível para salvá-la, agradecemos ao vereador Djalma Parente pela força que deu no momento de desespero lá no hospital.

Depoimento dado pelos Pais: Marlene Alves Bandeira e Marcelino Cardoso de Cirqueira.

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A denúncia de negligência foi rebatida pela Secretaria Estadual de Saúde (SES) mas confirmou o óbito, por meio de nota enviada à imprensa. Ainda segundo informações da SES a suspeita é que a causa seja mesmo que a criança tenha contraído Calazar.

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A nota explica que a menor chegou já em estado grave ao hospital e recebeu atendimento médico do pediatra e da equipe de plantão. A Secretaria afirma ainda que foi disponibilizada uma UTI terrestre para transferência da paciente, mas que ela não resistiu vindo a óbito, antes que pudesse ser transportada para outro município com mais recursos para o atendimento. A causa da morte está sendo investigada pelo Serviço de Verificação de Óbito (SVO).

Sobre a falta de recursos alegada pelos pais da criança na ocorrência, a Secretaria ressalta que o Hospital de Dianópolis dispõe de equipamentos, dentre eles, dois desfibriladores e duas ambulâncias (Fiat Doblô e uma S10) totalmente equipadas para atender a população.

Em Palmas, segundo informações da Unidade de Vigilância e Controle de Zoonoses (UVCZ), foram registrados 2.454 casos em animais no ano passado e três óbitos em seres humanos, vítimas do Calazar. Já os casos registrados no Estado foram solicitados à Secretaria de Estado da Saúde, que até o momento não repassou a informação.

Transmissão

De acordo com o médico clínico geral e especialista em medicina tropical, Alexandre Janotti, a Leishmaniose visceral é uma doença infectocontagiosa, transmitida pelo mosquito-palha, que é o vetor de transmissão da doença, causada pelo protozoário do gênero Leishmania e que tem o cão doméstico entre os principais hospedeiros.

“Mas também há outros hospedeiros, que são alguns mamíferos silvestres como a raposa, a mucura, dentre outros”, explica o especialista.

De acordo com Janotti, o mosquito-palha vive em ambientes úmidos, preferencialmente em regiões de mata. “Diferente dos transmissores de outras arboviroses como Dengue, Chikungunya. e Zyka, que se desenvolvem com mais facilidade em ambientes de água limpa, o Mosquito-Palha gosta de viver em áreas que sejam ricos em restos orgânicos, úmidas a exemplo das zonas de matas”, compara.

A doença

O médico explica que as pessoas mais suscetíveis à doença são as que têm imunidade baixa e que vivem em áreas endêmicas. “Algumas pessoas podem ser picadas pelo mosquito e não desenvolver a doença, porque suas condições gerais de saúde serem boas. Mas pessoas mal nutridas, por exemplo, se picadas pelo mosquito-palha, normalmente desenvolvem, e se não tratadas adequadamente podem chegar a óbito”, explica Janotti.

Entre os grupos com maior risco para a doença estão crianças abaixo de cinco anos, adultos com mais de 50 anos, pessoas infectadas pelo HIV, mulheres grávidas, pessoas com diabetes, insuficiência renal, transplantados ou que estejam em tratamentos com imunodepressores, dentre outros.

Sintomas

De acordo com o médico, os sintomas iniciais da doença são febre diária e constante, perda de peso acelerada e fraqueza, que são também sintomas de anemia. “Nos casos mais graves em que a doença já avançou a pessoa terá inchaço no abdômen, provocado pela inflamação do baço e do fígado”, detalha.

O especialista recomenda que o paciente ou responsável procure a unidade de saúde logo que os sintomas comecem a se apresentar e mesmo que o médico não solicite o exame, o próprio paciente pode pedir que a investigação para Calazar seja feita.

“Febre constante, emagrecimento e fraqueza já são alertas. O tratamento é oferecido pela rede pública de saúde e orientado pelo Ministério da Saúde e pode ser feito em casa, quando inicial. Os casos que precisam de internação são os que a doença já avançou ou quando a pessoas acometidas fazem parte do grupo de maior risco”, informa.