Guedes ‘dobra’ Bolsonaro e Petrobrás eleva preço do diesel em R$ 0,10 por litro

Quase uma semana após suspender o reajuste de 5,7% no preço do diesel na refinaria a pedido do presidente Jair Bolsonaro, a Petrobrás anunciou nesta quarta-feira, 17, um aumento de R$ 0,10 por litro, uma alta 4,8% na média. A manutenção da atual política de reajustes de preços da petroleira é uma sinalização de que a política liberal defendida pelo ministro da Economia Paulo Guedes se sobrepôs ao impulso intervencionista do presidente, segundo fontes do governo.

No início da noite, o presidente da Petrobrás, Roberto Castelo Branco negou interferências políticas no comando da estatal. “Esse acontecimento (a interferência do presidente Bolsonaro) teve final feliz: foi reafirmada a independência da Petrobrás para estabelecer os preços de seus combustíveis”, afirmou. Segundo Castello Branco, Bolsonaro não foi avisado previamente do reajuste anunciado.

A “saída de mercado” para o impasse criado pela intervenção do presidente foi costurada por Guedes, que pediu à sua equipe que estude “possibilidades de mudanças na tributação dos combustíveis”. Esse assunto já tinha começado a ser discutido pela equipe anterior – depois da paralisação dos caminhoneiros no ano passado – e o ministro considera que, como o peso dos impostos representa 46% no valor do diesel, a saída precisa passar pelo campo tributário.

Por outro lado, Guedes avalia que é preciso melhorar os mecanismos de reajustes da petroleira, mas esse trabalho deve ser conduzido pela empresa. Castello Branco garantiu não ter planos de mexer na política de formação de preços da Petrobrás e que a intenção é sempre buscar a paridade com os preços internacionais, embora tenha deixado em aberto a possibilidade de mudar a periodicidade dos reajustes.

Guedes já manifestou que apoia a ideia de reajustar os valores mensalmente considerando uma média móvel de um determinado período.

Questionado sobre o reajuste no diesel impactar a decisão dos caminhoneiros de fazer nova paralisação, Castello Branco afirmou que justamente essa preocupação o fez adiar o reajuste na semana passada. Segundo o presidente da Petrobrás, a companhia nada perdeu com o adiamento do reajuste em quase uma semana, por causa do uso de mecanismos de “hedge”, instrumentos financeiros que protegem as empresas de variações de seus custos.

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O executivo creditou a magnitude menor do reajuste à queda no custo com frete para importar o combustível. “O frete marítimo caiu e, por isso, o aumento foi menor do que o anunciado (na semana passada), de 5,7%”, disse.

O presidente da Petrobrás aproveitou para criticar o monopólio de mercado da Petrobrás no refino. Castello Branco afirmou que irá apresentar a proposta de venda de refinarias à diretoria-executiva e depois ao conselho. A reunião deste mês do colegiado da petroleira ainda não ocorreu. “A venda das refinarias vai mostrar que a companhia não vai ter interferência externa”, disse.

Ameaça

Pivô da greve dos caminhoneiros no passado, o aumento do preço do diesel passou a ser uma ameaça novamente este ano quando a cotação do petróleo no mercado internacional voltou a subir. Para compensar as perdas com a importação, a Petrobrás aumentou o diesel em 5,7% no último dia 11, mas voltou atrás no mesmo dia, após um telefonema de Bolsonaro. No dia seguinte à suspensão do reajuste, as ações da companhia tombaram 8% na Bolsa, fazendo seu valor de mercado encolher em R$ 32,4 bilhões.

Após anunciar medidas para acolher demandas dos caminhoneiros, o governo reafirmou a independência da Petrobrás para fixar seus preços.

O aumento de R$ 0,10 por litro levará o preço a R$ 2,247 nas refinarias. O novo preço passa a vigorar nesta quinta-feira. Segundo a Petrobrás, o preço do diesel nas refinarias da estatal representa 54% do que é cobrado do consumidor final nos postos de combustível. /COLABOROU VINICIUS NEDER