O clã Bolsonaro e os partidos

O terceiro filho do presidente Jair Bolsonaro, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), reuniu-se na semana passada com dirigentes de uma possível nova sigla partidária, que se chamaria União Democrática Nacional, em referência à antiga UDN, informou o Estado. Em relação a esses contatos, Eduardo contaria também com o apoio do irmão Carlos, vereador na cidade do Rio de Janeiro.

Tão logo foram noticiadas as tratativas de familiares do presidente Jair Bolsonaro com dirigentes partidários, Eduardo Bolsonaro negou participação no novo partido. “Informo a todos que não estou participando na formação ou resgate de qualquer partido”, disse o terceiro filho do presidente, em sua conta do Twitter. A informação obtida pelo Estado veio de três fontes ouvidas em caráter reservado.

O objetivo imediato da mudança de partido do clã seria preservar o capital político da família diante do desgaste político do PSL, atualmente sob suspeita de cometer irregularidades no uso de recursos do fundo partidário por meio de candidaturas “laranjas”. Além disso, o novo partido poderia servir para reunir lideranças da direita nacional que se identificam com o liberalismo econômico e com a pauta dita nacionalista e conservadora do clã Bolsonaro.

A “nova UDN” ainda não existe formalmente como partido. Por enquanto, é apenas mais um entre os 75 partidos em fase de criação, segundo o TSE. A sigla tem CNPJ e diretórios em nove Estados. Um dos dirigentes, o capixaba Marcus Alves de Souza, afirma que os apoiadores já reuniram 380 mil assinaturas. São necessárias 497 mil para a homologação da legenda perante a Justiça Eleitoral.

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Seja como for, eventual mudança de partido por parte do clã Bolsonaro não seria uma novidade. Trocar de legenda é um movimento absolutamente corriqueiro na trajetória política da família. Desde sua entrada na vida política, em 1989, quando se filiou ao PDC, o presidente Jair Bolsonaro mudou de partido oito vezes. Do PDC foi em 1993 para o PP, no mesmo ano foi para o PPR, em 1995 para o PPB, em 2003 para o PTB, em 2005 para o PFL, em 2005 voltou ao PP, em 2016 foi para o PSC e no ano passado entrou no PSL.

O filho mais velho do presidente, o senador Flávio Bolsonaro, ingressou no PP em 2003. Em 2016, fez o mesmo movimento do pai, indo para o PSC. Desde o ano passado, está no PSL. O segundo filho, Carlos Bolsonaro, está no quinto mandato na Câmara Municipal do Rio de Janeiro. Atualmente filiado ao PSL, começou na política pelo PTB, foi para o PP e depois para o PSC. No caso do terceiro filho, Eduardo Bolsonaro, o PSL é o seu segundo partido. Antes, de 2014 até 2018, esteve no PSC.

Se a troca de partido não é novidade para a família Bolsonaro, eventual abandono do PSL seria a confirmação de que a prometida nova política foi tão somente um discurso eleitoreiro.

Não deixa de ser estranho que pessoas eleitas prometendo um novo comportamento político, acima das negociatas e do “toma lá dá cá” dos caciques partidários, em menos de dois meses no cargo já estejam participando de tratativas sobre possível mudança de partido. Nessa história, fica evidente que o eleitor foi, uma vez mais, ludibriado.

Confiando em Jair Bolsonaro, a população votou em peso no seu partido para as cadeiras no Congresso. Na eleição para deputado federal, o PSL foi o partido que mais recebeu votos. Por força da distribuição das cadeiras pelos Estados, a legenda do presidente Bolsonaro é a segunda bancada do Congresso. Agora, corre o risco de perder suas principais estrelas, o clã Bolsonaro.

É nefasto para a vida política tanto troca-troca partidário. Por exemplo, desde outubro do ano passado, 12 senadores trocaram de legenda, e metade o fez na véspera da posse. Com esse modo de proceder, tanto o partido como os políticos que mudaram de legenda ficam sem nenhuma densidade programática. A notícia das tratativas do clã Bolsonaro com a nova UDN confirma e agrava o quadro. O oportunismo continua plenamente vigente.