Troca-troca na política; um “resumão” do jogo em 2018

O novelo do jogo político de 2018 está longe de ser desenrolado, principalmente porque a janela de transferências sem a perda do mandato está aberta até o dia 7 de abril. Esse pula-pula em bus­ca de outra sigla partidária é ca­paz de mudar todo o cenário que os cientistas políticos e os analistas de plantão previam.

Apenas uma certeza: a vida imi­ta a arte e o velho poema “Qua­dri­lha”, de 1930, de autoria de Carlos Drummond de Andrade, entrou na pauta. “João amava Teresa, que amava Raimundo, que amava Ma­ria, que amava Joaquim, que amava Lili, que não amava ninguém. João foi pra os Estados Unidos, Teresa para o convento, Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia, Joaquim suicidou-se e Lili ca­sou com J. Pinto Fernandes que não tinha entrado na história.”
Transportando para a nossa realidade tocantinense, “Josi amava Marcelo, que amava Gaguim, que amava Kátia, que amava Temer. Josi quer ir para outro partido, Marcelo continuar morando no Palácio, Gaguim morreu abra­çado a escolhas erradas, Kátia viu seus inimigos no poder, Temer re­tirou-se em isolamento e o MDB quer casar com um parceiro que ainda não entrou nessa história”.

Evidente que, poeticamente, tudo é fictício, mesmo porque não se pretende questionar aqui a preferência sexual de ninguém. O ver­bo “amava” nesse caso foi utilizado no sentido figurado. Porém, é ne­cessário enfatizar que haveria muitos outros personagens nesse arremedo de paródia à obra do finado Drummond, como por exemplo, Dulce Miranda, Derval de Paiva, Mauro Carlesse, entre outros.

A deputada federal Josi Nunes, por exemplo, tem falado do seu des­conforto em permanecer no par­tido que alega amar (é uma das poucas combatentes históricas da sigla), o MDB, em razão das divergências com os posicionamentos do presidente Temer. A parlamentar aponta que as posições que ela tomou contra a orientação do governo federal deixaram a cúpula nacional emedebista contrariada. Ela ressalta que o voto contra o financiamento privado das campanhas, o fato de não ter comparecido à votação sobre a abertura de processo contra o presidente Temer e de ter se manifestado contra a reforma da Previdência criaram um distanciamento e animosidade entre ela e o partido. Mas como sair da sigla e continuar junto a Marcelo Miranda, Derval de Paiva e toda a cúpula emedebista estadual? É um beco sem saída.

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Já Gaguim também é cria histórica do MDB. Sem espaços na si­gla, migrou para o PMB, depois pa­ra o PTN e, por fim, para o Podemos. Ele quer se reeleger e, tam­bém, apoiar uma possível candidatura de Mauro Carlesse (PHS) ao governo do Tocantins. Entre­tan­to, seu partido, comandado pelo pré-candidato Adir Gentil, quer apoiar Carlos Amastha (PSB).

Kátia Abreu – que era aliada de Temer e foi, inclusive, interventora do diretório emedebista tocantinense em 2014, seguindo ordens do próprio presidente –, em 2017, foi expulsa do MDB, que assim co­mo no poema parece não amar nin­guém. Ela pretende se filiar ao PDT no início de abril, depois de articulações intensas dos senadores da sigla Ângela Portela (RR) e Acir Gurgacz (RO).

O velho emedebista Derval de Paiva, presidente estadual do MDB, não gostou nada, nada dos discursos ao estilo “fogo-amigo”, proferidos pelo deputado estadual Rocha Miranda (MDB), que criticou a condução do partido e também o governador Marcelo Mi­ran­da em plena sessão ordinária na As­sembleia Legislativa. Foi convidado a fazer a uma reflexão e, por fim, firmar uma retração pública. O parlamentar preferiu se desfiliar da sigla. Ele ainda não revelou para onde vai, mas a “santa” janela partidária será seu salvo-conduto. Ro­cha já declarou, todavia, seu apoio a Carlesse, caso a candidatura dele se concretize.

Marcelo Miranda (MDB) quer se reeleger. A pretensão é legítima, mas é necessário formar grupos e alianças partidárias em torno do seu nome. Há todo um ambiente para que isso ocorra, já que o governador é boa praça, tem apresentado resultados positivos, organizou a máquina administrativa e tem feito investimentos. Mas duas baixas de peso, a exemplo de Josi Nunes e Rocha Miranda – em ra­zão de conflitos partidários –, era tu­do que o governador não precisava nesse momento.