Do tingimento com argila, produção com tecidos pet e até o coco babaçu, desfile de modas na Capital une criatividade, economia criativa e sustentabilidade

A onda mundial de produzir roupas e acessórios sem prejudicar o meio ambiente já é uma forte tendência no Tocantins. Em Palmas, um projeto cultural nomeado de Sustentabilidade em Moda levou peças de roupas e acessórios que utilizam a sustentabilidade como elemento essencial no processo de produção para a passarela de modas. O desfile aconteceu na quinta-feira, 21, integrado à programação do Tocantins Fashion Week.

 

Além de peças que utilizam elementos como algodão orgânico, dejetos da indústria, tecidos naturais e outras formas de produção que não agridem ao meio ambiente, a proposta foi também de dar visibilidade a mulheres micro e pequenas empreendedoras, sendo 95% dos produtos feitos a mão, agregando ao conceito da sustentabilidade ainda a criatividade e a economia criativa.

 

A microempreendedora Marta Benosse é uma das participantes, proprietária da Gaia Shop, que oferece moda Alternativa e Étnica, com tecidos de fibra natural. Ela vende as peças em rede social e também em feitas itinerantes na Capital. “Algumas peças são produzidas com a técnica de tingimento natural, usando pigmentos encontrados na natureza, com responsabilidade e respeito, e fortalecendo a economia local. São peças em tecido 100% algodão com tingimentos naturais por meio de produtos como cascas de romã e cascas de cebola, barbatimão e crajiru e tingimento com argila (barro)”, explica.

 

Responsável pela Manga Rosa Couros, que vende calçados com foco bastante regional também via redes sociais e feira itinerante, a artesã Letícia Ambrosio trouxe ao estado do Tocantins a intenção de levar ao público em geral a oportunidade de usufruir dos calçados e acessórios em couro natural. “Além de trabalhar a legitimidade e sustentabilidade nas peças, primamos o conforto e qualidade com calçados produzidos artesanalmente, com matéria prima natural, como couro, madeira, palha e pedra natural”, afirma.

 

A artesã Fabiana Wandscheer, proprietária da Ateliê Casa da Mãe e da Joana, é quem produz e vende suas próprias peças, nas ruas, para familiares e conhecidos, em redes sociais e feiras. Ela trabalha com resíduos de indústrias têxteis para produzir bolsas coloridas e bastante criativas, que se transformam em verdadeiras obras de arte. “Confecciono peças com material que essas indústrias não conseguem mais fazer uma peça de roupa, como restos de tecidos, que agregado à técnica do crochê se transformam em bolsas e maxicolares. A técnica recebe o nome de crochê contemporâneo, maxi crochê ou crochê moderno”, aponta.

 

Idealizadora da Makra Ateliê, Jéssica Vieira Ribeiro ainda dá os primeiros passos como empreendedora, mas com talento, responsabilidade social e sonhos que seguem longa carreira. “Tem sido surpreendente o acolhimento das minhas peças, que são brincos grandes, leves e sustentáveis. Mais do que uma marca de brincos de macramê é uma declaração de estilo e responsabilidade. Cada peça é produzida utilizando barbante ecológico como matéria-prima principal e também utiliza acessórios de madeira, palha de buriti e até mesmo o coco babaçu”, orgulha-se ela que produz brincos e acessórios à mão.

 

A Siá ECO é um negócio de família, de sociedade da costureira Maria Lucimar Pereira Torres com sua filha Gabriela Raia. “Eu já trabalho com costura há mais de 30 anos, mas por influência da minha família agregamos peças baseadas na ideia de moda circular. Diferente da reciclagem, que é resultado de transformações físico-químicas na matéria-prima, reutilizamos o tecido como ele é”, orienta ela ao falar sobre as peças que são feitas com tecidos biodegradáveis: algodão e linho.

 

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A empreendedora Hellen Flávia, Sempre-Viva Jalapão, explica que a marca nasceu da vontade de traduzir a experiência do turismo no Tocantins em presentes. As camisetas são camisetas feitas de 50% algodão orgânico e 50% pet, embaladas em material biodegradável. No desfile, ela lançou uma nova coleção, em comemoração aos 35 anos do Tocantins, que traz elementos que representam a fauna, a flora e a história do Estado trazendo luz à necessidade de preservação e valorização da diversidade local. “Além disso, priorizamos o uso de materiais sustentáveis e trabalhamos dia a dia para a redução da produção de lixo na nossa operação”, ressaltou.

 

Projetos

De acordo com a consultora de moda do projeto, Patricia Fregonesi, a sustentabilidade na moda já é uma tendência que ganha espaço cada vez mais no mercado. Isso ocorre muito por conta da banalização das produções massivas e aceleradas, que estão tendo dificuldades para criar uma conexão mais duradoura com o consumidor. “A sustentabilidade na moda está desde a matéria-prima que você confeciona até menos resíduos de produção, mais artesanal, e aqui em Palmas a gente tem muito desses produtos alinhados a essa tendência de unir a criatividade com a proteção ao meio ambiente”.

 

Idealizadora do projeto e produtora executiva do Desfile, Cinthia Abreu explicou que o desfile Sustentabilidade em Moda mostra ao público que a moda pode ser criativa e inovadora enquanto ainda segue abordagem sustentável. “O consumo acelerado de roupas tem deixado grandes marcas no meio ambiente. Além disso, a indústria têxtil também fomenta a desigualdade sociocultural, pois muitas vezes utiliza empregos sazonais, informais e até trabalho escravo. A nossa proposta foi seguir no fluxo a favor do meio ambiente, sem deixar de lado a beleza das peças e criatividade”, complementou.

 

A Presidente do Instituto Brasil Sustentável (IBS), a empresária Lucivânia Brito de Abreu, complementa que o projeto escolheu trabalhar com mulheres micro e pequenas empreendedoras como forma de incentivo à economia criativa. “São costureiras, artesãs, que mostraram a beleza e grandiosidade de suas produções que têm condições de estar presentes nas maiores passarelas do mundo, tanto pelo conceito de criatividade quanto de identidade com muitas produções feitas à mão”, concluiu Lucivânia.

O desfile Sustentabilidade em Moda é uma realização do Instituto Brasil Sustentável (IBS) com patrocínio do Programa Municipal de Incentivo à Cultura (Promic), da Fundação Cultural de Palmas (FCP). O desfile contou com a presença da presidente da FCP, Cleizenir Vieira, e técnicos da fundação.

Cinthia Abreu