Convocação de Guaidó, militares dissidentes, reação de Maduro: entenda o que aconteceu hoje na Venezuela

O embaixador da Venezuela na Organização das Nações Unidas (ONU), Samuel Moncada, disse em Nova York, nesta terça-feira (30), que “o governo do presidente Nicolás Maduro derrotou todas as tentativas de criar uma guerra civil” em seu país, referindo-se à movimentação liderada pelo oposicionista Juan Guaidó para tentar derrubar o regime chavista.

A convocação do presidente autoproclamado levou a confrontos entre civis e forças de segurança nesta terça. A imprensa local cita 57 feridos em Caracas, capital venezuelana.

Venezuela vive dia de confrontos entre forças do governo e da oposição

Enquanto o chanceler de Maduro se pronunciava em Nova York, o ministro das Relações Exteriores chileno, Roberto Ampuero, confirmou que outro líder da oposição venezuelana, Leopoldo López, se encontrava na residência da missão diplomática do Chile em Caracas, acompanhado por sua mulher e uma filha do casal.

López foi libertado de prisão domiciliar esta manhã quando alguns militares se juntaram aos oposicionistas liderados pelo autoproclamado presidente interino Guaidó. Esses militares e uma multidão de opositores tentaram, pela manhã invadir a base aérea conhecida como La Carlota, a mais importante do país.

Ao lado de Leopoldo López, Juan Guaidó fala a multidão de cima de um carro em Caracas, após convocar o povo às ruas contra Maduro — Foto: Cristian Hernández/AFP

O embaixador da Venezuela na ONU, Samuel Moncada, afirmou que o governo e todas as instituições conseguiram derrotar mais uma tentativa de tomar o poder. O embaixador ressaltou que nenhuma vida foi perdida durante os confrontos desta terça-feira e que o que aconteceu foi uma “operação midiática”.

Outro sinal de que a tentativa de derrubar Maduro não alcançava seu objetivo foi a confirmação, esta tarde, pelo porta-voz da Presidência brasileira, Otávio Rego Barros, de que 25 militares venezuelanos pediram asilo na embaixada brasileira na Venezuela.

O paradeiro de Guaidó não estava claro no final da tarde de terça. Mais cedo, o procurador-geral venezuelano, Tarek William Saab, alertou que o Ministério Público está juntando provas contra os “reincidentes nesta tentativa de atividade conspiratória à margem da legalidade”.

O secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, disse ao jornalista Wolf Blitzer, da CNN, que Maduro estava pronto para deixar o país nesta terça-feira, mas foi convencido a ficar pela Rússia. Segundo Pompeo, “Ele tinha um avião na pista, estava pronto para partir esta manhã até onde sabemos e os russos indicaram que ele deveria ficar…ele estava indo para Havana”. A informação, porém, não foi confirmada.

Forças de Maduro avançam com tanque de guerra sobre protestantes. Assista;

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O que aconteceu até agora

  • Presidente autoproclamado Juan Guaidó convocou população às ruas e disse ter apoio de militares para a fase final da chamada Operação Liberdade.
  • Presidente Nicolás Maduro afirmou ter conversado com todos os comandantes das chamadas Redi (Regiões de Defesa Integral) e Zodi (Zona de Defesa Integral), que, segundo ele, manifestaram “total lealdade ao povo, à Constituição e à pátria”.
  • Líder da oposição Leopoldo López, que estava em prisão domiciliar após decisão sob o regime de Maduro, foi liberado e circulou pelas ruas ao lado de Guaidó. Mais tarde, o ministro das Relações Exteriores chileno confirmou que López está na residência da missão diplomática do Chile.
  • Diosdado Cabello, que comanda a Assembleia Constituinte pró-Maduro, convocou apoiadores do governo a se dirigir para o Palácio presidencial de Miraflores.
  • Policiais dispararam bombas de gás contra manifestantes em Caracas. Segundo TV estatal, eles tentaram dispersar “golpistas”.
  • Brasil, Estados Unidos e Colômbia disseram estar contra Maduro. O presidente Jair Bolsonaro reafirmou apoio a Guaidó e disse que o Brasil “acompanha com bastante atenção” a situação.
  • O vice-presidente Hamilton Mourão disse que crise chegou ao limite e que ou Guiadó será ou preso ou Maduro vai embora.
  • 25 militares venezuelanos, nenhum de alta patente, pediram asilo na embaixada brasileira em Caracas.
  • O presidente americano, Donald Trump, postou em rede social mensagem na qual diz acompanhar de perto a situação e que “os Estados Unidos apoiam o povo da Venezuela e a sua liberdade”.
  • Cuba, Bolívia e Rússia criticaram a ação de Guaidó.
  • O embaixador venezuelano na ONU, Samuel Moncada, disse que o governo Maduro derrotou “tentativa de criar guerra civil”.

‘Operação Liberdade’

Pela manhã, Guaidó convocou a população às ruas e declarou ter apoio de militares para pôr fim ao que ele chama de “usurpação” na Venezuela.

Ele fez uma pronunciamento diante de manifestantes. “Hoje, já sabemos que todos os venezuelanos estão a favor da mudança e sabemos que o povo, incluindo as Forças Armadas, estão a favor da Constituição. Os soldados em Caracas e em todo o país estão do lado da Constituição e contra a ditadura”, afirmou.

Um canhão de água da Guarda Nacional Bolivariana dispersa os oponentes ao presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, em Caracas, na Venezuela — Foto: Ariana Cubillos/AP

Em seguida, Maduro disse ter a lealdade de militares e convocou uma mobilização social. Em Caracas, manifestantes entraram em confronto com as forças de segurança.

Redi e Zodi são as siglas para Regiões de Defesa Integral e Zonas de Defesa Integral, respectivamente.

O ministro da defesa, Vladimir Padrino López, se pronunciou na TV e disse que “este ato de violência foi derrotado. Quase todo esse grupo de uniformizados com armas deixou o distribuidor e foi para a praça Altamira, repetindo 2002 [naquele ano houve um golpe que derrubou Hugo Chávez temporariamente]”.

Ele terminou o pronunciamento dizendo “Chávez vive!”.