Em discurso de estreia no Senado, Kajuru fala de amante do pai e vai ao Trend Topics do Twitter

Ao pedir questão de ordem no plenário no Senado no debate sobre votação aberta ou secreta para presidente da Casa, o senador por Goiás Jorge Kajuru (PSB) falou da amante do pai, da cegueira provocada por diabetes, de Erasmos Carlos, Galvão Bueno, Datena e Collor. A confusão do discurso fez o nome do senador chegar ao Trend Topics do Twitter nesta sexta-feira (1º). Os novos senadores tomaram posse hoje.

“Kajuru é diferente mesmo, é meio louco”, disse o próprio parlamentar.

“Galera, esqueçam o Cabo Daciolo, agora eh Kajuru”, comentou o jornalista Guga Noblat.

Veja abaixo a íntegra do discurso:

“Sr. Presidente, senhoras e senhores, aqui em mãos tenho rigorosamente escrito praticamente 98% do que, com exímia propriedade, expressou o senador Randolfe, até porque ele e eu pertencemos a um grupo independente e, em várias reuniões, falamos da mesma forma e pensamos da mesma maneira.

Fiquei feliz ao ver o pronunciamento que acompanha a visão do senador Randolfe, do gaúcho, meu ex-colega de imprensa esportiva, ético, querido, Lasier Martins. Peço desculpas, Lasier, porque ainda não o vi. Eu só tenho 6% de visão em função do diabetes. O senador Tasso sabe disso e foi tão querido comigo: chegou até mim e falou: “Kajuru, eu sou o Tasso”. Então, eu às vezes não enxergo as pessoas de longe. Tinha tanta vontade de dar um abraço no Lasier. Fizemos copas do mundo, olimpíadas.

Posto isso, eu penso que, para discordar das ideias de outros colegas aqui que já falaram, para discordar das ideias de qualquer colega aqui, de qualquer senhora, de qualquer senhor, você não precisa desqualificar ninguém. Perfeito? Para discordar de um colega, você não tem que desqualificá-lo. Basta você discordar democraticamente. É assim que eu entro nesta Casa para o mandato de oito anos.

Registro que, em nome de mamãe, fiquei muito feliz, muito emocionado, porque, como jornalista, fiz tantas críticas a senadores históricos aqui desta Casa, há tanto tempo aqui, e esses mesmos Senadores hoje me cumprimentaram com máxima alegria, lembraram de fatos antigos. O senador Collor, antes de ser Presidente, como Presidente do CSA de Alagoas, lembramos da entrevista. Renan lembrou que eu dei, com prazer, jogando futebol em 1994 com o Galvão Bueno e o Maguito Vilela, que eu dei nele uma caneta no meio do campo, Romário, gênio da área, que nem você dava, baixinho! (Risos.)

Dei uma caneta nele. Então, eu fiquei tão feliz de encontrar essas pessoas e de ver que não há raiva, porque me ensinou o jornalista Paulo Francis, eterno há raiva, porque me ensinou o jornalista Paulo Francis – eterno – que crítica não é raiva, crítica não é ódio, é apenas uma opinião sua. Ocorre que, neste País, a crítica é tão incomum que às vezes as pessoas interpretam com ódio. E não é ódio. Eu penso que o voto também serve nessa frase do Paulo Francis no seu livro Diário da Corte. O voto não é raiva, o voto não é ódio, o voto é uma escolha, e você tem que justificar os motivos pelos quais você está escolhendo aquele candidato e dizer, de forma transparente, para a Nação brasileira.

Como eu não vou ler então, exatamente porque Lasier e Randolfe – estimados colegas – já escreveram o mesmo que eu escrevi, eu não vou falar aqui de caput. Caput para mim é a Nação brasileira neste momento. O Brasil inteiro está nos vendo. O que o Brasil inteiro está esperando de nós? Que jamais aceitemos o voto secreto. É isso, em qualquer pesquisa, entre nós aqui. Começamos um abaixo-assinado e obtivemos 48 assinaturas de Senadores, entre elas a minha evidentemente, contra o voto secreto. Quarenta e oito é maioria ou não? Creio que sim. Então, aqui dentro desta Casa a maioria prefere o voto aberto, como a maioria da Nação brasileira prefere.

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Eu vejo – humildemente menos qualificado do que vocês no que tange à experiência parlamentar da maioria dos senhores aqui, eu sou aqui um juvenil, mas em comunicação, modéstia à parte, eu não sou juvenil e na oratória também – que esta Casa hoje mostrar ao Brasil inteiro que vai votar para a Presidência do Senado de forma secreta, é dar um tapa na cara de toda a sociedade brasileira. Um tapa na cara!

Nós caminharemos para uma Legislatura que buscará o caminho do báratro – o caminho do báratro. E eu não entrei na vida pública, como empregado público, para pertencer ao báratro, de forma alguma. Eu quero continuar andando nas ruas de cabeça erguida, ser aplaudido em voos, em restaurantes pela minha posição, mesmo que qualquer um discorde. E repito: discordar sem desqualificar o companheiro.

Então, Presidente, que possamos entender que aqui a questão não é, neste momento, falar em Constituição, falar em regra, falar em caput. Eu acho que o caput é o que a Nação quer de nós. Como é que a gente vai sair nas ruas amanhã, sábado, se a gente fizer votação secreta aqui, meu Deus? Como é que a gente vai sair nas ruas amanhã? De que forma? Como é que a gente vai olhar para os nossos filhos, para os nossos pais, para os nossos eleitores, que são os nossos únicos patrões?

E termino, presidente, senhoras e senhores, permitam-me… Ex-presidente Collor, o senhor vai rir, como riu daquela conversa. Eu vou ter que contar essa, não tem jeito. Kajuru é diferente mesmo, é meio louco.

O Kajuru é diferente mesmo, é meio louco. Mas já dizia o Erasmo que a loucura é a única coisa que torna a vida suportável. Aliás, o meu amigo Galvão Bueno perguntou para mim se era o Erasmo Tremendão. Eu falei: não, Galvão, é o Erasmo de Roterdã. Então, podem me chamar de louco, mas eu vou fazer esse pronunciamento aqui para concluir.

Eu sou filho único, de uma merendeira de grupo escolar, que me criou com muita dignidade, Dona Zezé. Um salário mínimo naquela época. Eu e Datena, amigos de infância, e o Heraldo Pereira, jornalista notável da Rede Globo. Nós três fomos criados juntos, desde onze anos de idade.

Então, eu quero recordar aqui, alguns vão rir, outros vão até me criticar. Mas Kajuru vai se preocupar com crítica? Jamais. Até porque o que vem de lá volta de cá. Com respeito, sem desqualificar.

Papai era um padeiro. Zezinho, o padeiro, em Cajuru, próximo de Ribeirão Preto. Eu, filho único. Eu estava com o Datena na Pizzaria Bambino. De repente chega o meu pai… Pizzaria Bambino, quem sabe aqui, é lá de Ribeirão Preto, antiga. Chega o meu pai com uma mulher. E eu levei um susto. Papai veio na minha mesa e falou: meu filho, o que você está vendo aqui é secreto, tá? Eu falei: como assim, pai? Essa aqui é minha amante, meu filho. Eu falei: pai, o senhor tem amante? Ele falou: claro, meu filho, quase todo homem tem. Eu tinha rigorosamente onze anos de idade. Ah, é secreto, pai? Então, está legal.

Chegamos em casa à noite, a mamãe fazia a tradicional sopa de macarrão com legumes e com feijão. Nada melhor no mundo para mim, nenhum prato supera. Começa o jantar, papai, mamãe e eu, só nós três. Eu falei: mamãe, preciso contar uma coisa para a senhora. O quê? Papai falou para mim que é secreto, que eu não podia falar para a senhora. A senhora está tomando bola nas costas, mamãe. Papai tem uma amante. Eu apanhei demais. O que o meu pai me bateu foi uma loucura, mas eu apanhei tão prazerosamente, porque eu contei para minha mãe aquilo que o meu pai falou que era secreto.

Desculpem, senhoras e senhores, eu não vou amanhã deixar de sair nas ruas de cabeça erguida. Eu não abro mão de que o voto seja aberto. Agradecidíssimo.”