No Congresso, climão familiar e deputados fazendo ‘lives’ marcam cerimônia

O presidente Jair Bolsonaro foi empossado presidente da República no Congresso Nacional com a presença de aliados, familiares e agregados. Uma velha rusga entre o caçula do primeiro casamento de Bolsonaro, Eduardo Bolsonaro, e Jair Renan, filho de 20 anos de outro relacionamento do presidente, ficou aparente durante a cerimônia, no entanto.

Enquanto Eduardo se sentou na primeira fila do plenário, ao lado da namorada, os irmãos Carlos, Flávio e Jair Renan sentaram lado a lado junto com suas namoradas e esposas na segunda fileira. Eduardo e Jair Renan evitaram se falar e apenas trocaram um riso sem graça quando ambos faziam uma transmissão ao vivo e as câmeras de seus celulares se cruzaram.

 

O problema de Eduardo com Jair Renan ficou conhecido em 2017, quando chamou o meio-irmão de “merda”, numa conversa por WhatsApp flagrada por um fotógrafo. No diálogo, Bolsonaro xingava Eduardo por faltar à sessão de votação para a Presidência da Câmara, para a qual ele concorria e esperava contar com o voto do filho.

Jair Renan, menos conhecido, quase não foi reconhecido durante a cerimônia de posse. Já Carlos, Flávio e Eduardo eram praticamente celebridades, sendo abordados para selfies e abraços a todo momento. Carlos foi o único filho que acompanhou o pai durante todo o percurso desde a Granja do Torto até o Congresso, e entrou no plenário junto com o pai. Os demais já o aguardavam para o início da solenidade.

O clima no Congresso Nacional era amigável. Não havia membros da oposição no plenário. Líderes partidários e senadores dividiam espaço com a família e conhecidos do presidente, como o deputado eleito Hélio Negão. As figuras próximas de Bolsonaro eram disputadas para selfies e vídeos. Jair Renan encerrou uma “live” fazendo um gesto de arma com a mão, marca registrada do pai. Já seu meio-irmão mais velho gravou uma transmissão ao vivo usando dois celulares ao mesmo tempo.

Antes de o presidente assinar o termo de posse, que o consagrou no cargo, trocou gracejos com deputados que estavam na sua frente. Respondeu “quer trocar (de lugar) comigo?” para um membro da plateia, ao ouvir uma provocação. “É nosso presidente”, gritaram alguns dos presentes. Também se ouvia gritos de “zero um na rampa” (apelido de Bolsonaro, na rampa do Congresso) e “selva” (em referência ao treinamento na selva feito por militares).

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A disposição das cadeiras para o evento, com três fileiras reservadas só para convidados do presidente, incomodou alguns parlamentares. O deputado Hildo Rocha (MDB-MA), um dos primeiros a chegar ao evento, foi removido de onde estava sentado na primeira fileira pelo diretor da Polícia Legislativa do Senado, Pedro Ricardo, e se estressou com a organização do evento.

Entre os filhos do presidente Jair Bolsonaro, Renan, (2º da esquerda para a direita) é praticamente desconhecido pelos eleitores do pai

O plenário estava cercado por militares, seguranças e bombeiros controlando a entrada e saída dos convidados, e os jornalistas tiveram que se concentrar em um espaço pequeno, afastado dos políticos.

O deputado e aliado de Jair Bolsonaro, Alberto Fraga (DEM-DF), disse que quase foi barrado ao entrar no Congresso e que o excesso de preocupação com segurança acaba atrapalhando “o brilho da festa”. Fraga é coordenador da bancada da bala e fez campanha pelo presidente.

— Se você for ao Supremo Tribunal Federal, os ministros estão em primeiro lugar. Os donos da casa têm que estar em primeiro lugar. Têm pessoas guardando lugar aqui, quando a prioridade deveria ser nossa. Os deputados foram preteridos para esperar uma outra autoridade chegar — disse o deputado.

Para Fraga, coronel da reserva da Polícia Militar, a segurança acabou “tomando conta” do Congresso e passou por cima da autonomia dos próprios deputados, que foram proibidos de circular livremente pela Casa, segundo ele. A segurança disse que os deputados que saíssem do prédio não poderiam voltar, relatou. No trajeto de carro até o prédio, Fraga só conseguiu chegar após mostrar sua credencial para o Exército mais de uma vez. Normalmente, deputados federais têm acesso irrestrito à casa, identificados apenas pelo broche parlamentar.

Além dos filhos, Alberto Fraga, Bruno Araújo (PSDB-PE), Marcos Rogério (DEM-RO), Soraya Santos (PR-RJ), Antônio Imbassahy (PSDB-BA) e Hildo Rocha estão entre muitos que sacaram as câmeras para transmitir ao vivo a cerimônia em suas redes sociais. Quando o presidente chegou à Câmara, as gravações continuaram, inclusive quando foi executado o hino nacional. Muitos enquadravam seu próprio rosto em frente ao palco, para mostrar que estavam na posse.