‘Na defesa da democracia, vamos tocar fogo na rua’, diz Ciro Gomes sobre tuíte de Carlos Bolsonaro

Ciro Gomes não foi a Paris no segundo turno das eleições de 2018.

“Na verdade, fui fazer uma viagem a Portugal, porque saí de Fortaleza. É a passagem mais barata, classe econômica”, explica.

Falas polêmicas do ex-presidenciável foram feitas durante entrevista à BBC News Brasil, a reportagem foi publicada pelo veículo na tarde da última sexta-feira, 13.

O ex-ministro, que concorreu contra Jair Bolsonaro e Fernando Haddad (PT) na disputa pela Presidência, diz não se arrepender de sair do Brasil durante o pleito, decisão que ainda o persegue nas redes sociais. Nos comentários a seus posts, é fácil encontrar um “mas você não estava em Paris?”.

Não havia razão para ficar, argumenta Gomes, que fez 12% dos votos no primeiro turno, contra 29% de Haddad. Para ele, a derrota do petista era iminente e seu apoio não faria diferença alguma, o que teria ficado claro na análise dos números. Ele afirma que também não se arrepende de não ter apoiado Haddad, mesmo dizendo que o governo de Bolsonaro é muito pior do que imaginava.

“O Haddad, na minha opinião, sendo uma boa pessoa, entrou nisso como consequência de uma grande fraude que estava perdida de véspera. Pouco importa que atitude eu tomasse, a grande força dominante no debate brasileiro era o antipetismo.”

O pedetista diz também que não vê Bolsonaro como uma ameaça à democracia, mas um destruidor das tradições republicanas do país. Cobra, no entanto, um posicionamento mais claro do presidente em relação às declarações do seu filho, Carlos Bolsonaro, a quem o ex-candidato à Presidência chama de “percevejo” e que, esta semana, foi alvo de críticas depois de publicar nas redes sociais que “a transformação que o Brasil quer não acontecerá na velocidade almejada pelas vias democráticas”.

“Estou pedindo que o Bolsonaro fale claramente sobre isso, porque esse menininho [Carlos] é um percevejo, é irrelevante”, diz. “Agora, se é isso que pensa o Bolsonaro, a gente precisa dizer com clareza para ele que a imoralidade do PT nos divide, a agenda de costumes tosca nos divide, mas na defesa da democracia nós vamos tocar fogo na rua, fique seu Bolsonaro sabendo. Ele que não avance na direção disso, porque a minha geração sabe o que custou retomar a democracia e ele se elegeu por conta de democracia”, continua Gomes, que afirma já estar em campanha para 2022.

“O que eu quero ser está dito, já tentei ser três vezes. E meu partido quer que eu seja e eu topo ser.”

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Leia os principais trechos da entrevista abaixo.

BBC News Brasil – O senhor não tem um mandato hoje. O que anda fazendo? Estudando astrofísica, como gosta? Pode descrever sua rotina?

Ciro Gomes – Sou advogado e faço palestras pelas quais me remunero também, mas eu estudo compulsivamente. Há coisas que eu estudo por dever de ofício: Brasil, as conjunturas, as evoluções dos indicadores, os números, as prospecções, enfim, me mantenho permanentemente atualizado dos movimentos. Praticamente passo três, quatro dias em casa, por doze, dez fora de casa, atendendo a convites de palestras.

Me remunero por instituições privadas e não cobro para estudantes, sindicatos, enfim, e procuro num certo ambiente fazer a compreensão do que está acontecendo com o Brasil e, a partir da denúncia dos problemas, formular estratégias, caminhos alternativos.

Nas horas vagas, evidentemente, eu continuo especulando sobre cosmologia, astrofísica, que são limites do conhecimento humano que mexem muito com a minha cabeça.

BBC News Brasil – O ex-presidente Lula foi eleito na quarta campanha, e sua quarta pode acontecer em 2022, como o sr. já comparou. Como está essa ideia de campanha?

Gomes – O que já está acontecendo e o que vai acontecer no Brasil é tão caloroso, é uma confusão tão gigantesca, que há um poder de combustão imenso nessa crise.

Haverá momentos gravíssimos nos próximos seis meses, um ano, um ano e meio, na medida que a ilusão da retórica do Bolsonaro se revelará completamente vã e eu não sei como ele vai reagir a isso, não escapa da minha visão uma renúncia, porque ele não tem psicologia para isso, não tem formação para o contraditório. Ele é uma figura gravemente despreparada e o mundo está, lamentavelmente, vendo isso de uma forma tosca, grosseira, de maneira que o que vai restar do que está hoje ninguém sabe.

Leia toda a entrevista no site da BBC, clique AQUI