Por que Simoni não herda os votos de Bolsonaro no Tocantins?

O candidato a governador Cesar Simoni (PSL) não é político de golpes baixos nem de expressões grosseiras, o que já foi demonstrado nas entrevistas à época em que esteve à frente da Secretaria de Segurança Pública, bate-papos informais ou declarações à imprensa quando provocado acerca de temas polêmicos.

Trata-se de um camarada comedido, mas, dicotomicamente, irredutível e implacável em suas posições. Simoni é homem de levar o adversário às cordas sem ferir a regra do jogo, porque foi obrigado a aprender o ofício, enquanto exerceu o cargo de promotor de Justiça.

É capaz de engolir alguns sapos, todavia, só até onde considera suportável. Isso ficou claro em suas declarações, no início de agosto, ao Jornal Opção e a outros veículos de comunicação sobre a Operação Jogo Limpo, da Polícia Civil. Mesmo desvinculado da pasta de Segurança Pública desde o mês de março, ele foi acusado, injustamente, por alguns vereadores de Palmas de ser o “mentor” da referida operação. A resposta veio a caráter.

Simoni provou sua capacidade de gestão enquanto esteve no comando da Segurança Pública e organizou, com ideias inovadoras, criativas e muita responsabilidade, os problemas deixados pelo governo anterior. Aliado a isso, o ex-promotor de Justiça possui um passado profissional sem quaisquer máculas. Tem o perfil ideal, portanto, na visão de muitos eleitores, para ser governador.

Entretanto, apesar do currículo, a campanha de Simoni ainda não decolou. É como se ele possuísse uma mina de ouro subterrânea, mas não tem capital para comprar o maquinário necessário para explorá-la. Talvez fosse como se possuísse um avião tipo Boeing, mas sem gasolina, sem comandantes, e muito menos dinheiro para colocá-lo e mantê-lo no ar.

Bolsonaro

Essa mina de ouro ou esse Boeing é nada mais do que o fato de ser o candidato a governador do Tocantins do presidenciável, e líder em todas as pesquisas sem o ex-presidente Lula da Silva (PT), Jair Bolsonaro (PSL).

Observa-se que, entre os mais de 5,5 milhões de seguidores inscritos na sua página do Facebook, cerca de 400 mil são eleitores tocantinenses. Ora, então por que esses votos ainda não foram transferidos a Simoni, se na última pesquisa divulgada pelo instituto Vetor, encomendada pela Federação das Indústrias do Estado do Tocantins (Fieto), Bolsonaro lidera com folga e alcança 23% das intenções de votos no Estado?

Talvez sejam erros de estratégia dos coordenadores da campanha, por não gravarem vídeos com o presidenciável solicitando que seus eleitores votem também em Simoni. Talvez seja pura escassez de recursos para engatilhar outras ações político-partidárias. Talvez seja porque os adversários estejam em campanha desde abril, em razão da eleição suplementar, enquanto o governadoriável do PSL só começou a campanha em no último dia 16. Não se sabe ao certo e não cabe aqui fazer pré-julgamentos.

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Contudo, o fato de não ser bastante conhecido em âmbito estadual – exatamente por não ser político profissional – mas, possuir uma ficha “pra lá de limpa”, pode se transformar num indicativo de acerto sob a ótica do eleitorado, contrariando a interpretação dos políticos e jornalistas setoriais.

Política tradicional

Simoni pode surfar, por exemplo, na onda levantada por Marlon Reis (Rede) na eleição suplementar: de ilustre desconhecido a detentor de quase 60 mil votos, em uma campanha com parcos recursos e que se baseou na suposta honestidade do candidato e sua ficha limpa.

Porém, ao atrair o PT e o PV para sua coligação, Reis rasgou deixou-se contaminar. Jogou fora, numa só tacada, mais da metade dos votos que obteve na eleição extemporânea, porque as condutas dos caciques dos dois partidos, o PT em âmbito nacional e o PV em âmbito estadual, são totalmente contrárias aos preceitos da Lei da Ficha Limpa, que ele tanto se orgulha de ter ajudado a criar.

Além disso, anteriormente, Marlon Reis se declarou totalmente contrário a alianças com as oligarquias, familiocracias ou ainda a quem houvesse exercido cargos públicos que levaram o Estado do Tocantins ao que ele classificou como lamaçal. Mas seu candidato a senador é o deputado federal Irajá Abreu (PSD), filho da senadora Kátia Abreu (PDT).

Assim, o termo da “ficha limpa” está sem dono no momento. Simoni, se quiser, pode se apoderar deste discurso e, cooptar esta onda, arregimentando os eleitores de Marlon Reis, que demonstraram insatisfação com os atuais modelos de gestão, como também com seus executores, ora candidatos.

Caso seja isso mesmo, haverá uma dificuldade adicional na perspectiva dos adversários que pretendem desmontar a candidatura do inesperado concorrente. Vão precisar tomar cuidado para não transformá-lo em uma doce vítima do “poder econômico” ou do “pragmatismo e proselitismo da velha política” que aí está.

Contra a tese do candidato refratário à política tradicional, existe a realidade nua e crua: as necessidades do caixa da campanha, advindas apenas de um ínfimo fundo partidário, exatamente porque ele se nega a receber doações espúrias, além do reduzido tempo de rádio e televisão e dos acordos partidários que pouco agregaram, que incluem até mesmo o apoio a outros candidatos majoritários, por parte dos candidatos proporcionais. Condutas estas totalmente contrárias aos interesses de Simoni.

Há, por fim, o outro lado da real política: quem tem o poder de decisão é o povo e, caso ocorra o fenômeno da transferência de votos de Bolsonaro para Simoni, isso dá ao jogo igualdade de condições.