Você não gosta de mim, mas Harvard gosta: alvo de Bolsonaro, Paulo Freire é referência lá fora

Durante entrevista na última segunda-feira (29), o presidente Jair Bolsonaro (PSL) defendeu a mudança do educador Paulo Freire como patrono da educação no Brasil. As informações são do jornal Folha de S. Paulo.

A declaração do presidente aconteceu na abertura da Agrishow, em Ribeirão Preto (SP). Em uma conversa com uma menina de oito anos, Bolsonaro disse que o patrono atual “vai ser mudado”. O título foi dado a Paulo Freire em 2012, após a aprovação de um projeto de lei. Uma possível alteração precisaria ser referendada pelo Congresso.

“Quem sabe nós temos uma patrona da educação, não mais um patrono muito chato. Não precisa falar quem é, que temos até o momento, que vai ser mudado. Estamos esperando alguém diferente”, afirmou o presidente.

Durante a campanha eleitoral, Bolsonaro foi crítico do método de alfabetização desenvolvido por Paulo Freire e se posicionou contra a influência dele nas escolas públicas brasileiras.

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Freire é estudado em universidades americanas, homenageado com escultura na Suécia, nome de centro de estudos na Finlândia e inspiração para cientistas em Kosovo. De acordo com levantamento do pesquisador Elliott Green, professor da Escola de Economia e Ciência Política de Londres, na Inglaterra, o livro fundamental da obra do educador, ‘Pedagogia do Oprimido’, escrito em 1968, é o terceiro mais citado em trabalhos acadêmicos na área de humanidades em todo o mundo.

Para especialistas em educação ouvidos pela BBC News Brasil, entretanto, a raiz da controvérsia em torno da pedagogia de Paulo Freire não é sua aplicação em si – mas o uso político-partidário que foi feito dela, historicamente e, mais do que nunca, nos dias atuais. “Li a maior parte dos livros dele. Minha tese de doutorado foi amplamente baseada em seus ensinamentos. Tenho aplicado seu método de várias maneiras em minha carreira profissional, na prática e na pesquisa”, afirmou a pedagoga Eeva Anttila, professora da Universidade de Artes de Helsinque, na Finlândia.

“A maior vantagem de sua metodologia é a abordagem anti-opressiva e não autoritária, a pedagogia dialógica e respeitosa que ele promoveu. O problema é que suas ideias têm sido usadas para fins políticos – o que, em meu entendimento, nunca foi seu propósito inicial”, disse a finlandesa.

Freire tornou-se conhecido a partir do início dos anos 1960. Ele desenvolveu um método de alfabetização de adultos baseado nos contextos e saberes de cada comunidade, respeitando as experiências de vida próprias do indivíduo. Aplicou o modelo pela primeira vez em um grupo de 300 trabalhadores de canaviais em Angicos, no Rio Grande do Norte. De acordo com os registros da época, a alfabetização ocorreu em tempo recorde: 45 dias.