Por que telas dobráveis viraram a nova moda da tecnologia

Depois do 5G, a principal tendência para 2020 no mundo da tecnologia móvel é a dos celulares dobráveis. A Samsung já vende na Coreia do Sul e parte da Europa o Galaxy Fold; a chinesa Huawei prepara o lançamento do Mate X; e até a Microsoft entrou na onda, com o Surface Duo.

Mas qual é a vantagem de celulares dobráveis? Por que as empresas de tecnologia decidiram apostar neste novo formato? Tudo leva a crer que a queda nas vendas de tablets e a estagnação do mercado de smartphones são os culpados.

Para entender este fenômeno, primeiro é preciso entender o estado recente do mercado de tecnologia móvel. O smartphone – que cresceu vertiginosamente em vendas desde que a Apple reinventou a receita com o primeiro iPhone, em 2007, e o projeto Android popularizou a nova fórmula, em 2008 – vem dando sinais de fadiga.

Segundo dados da empresa de consultoria Gartner, foram vendidos 122,32 milhões de smartphones em 2007 no mundo. Esse número só cresceu até atingir 1,4 bilhão de unidades em 2015. No ano seguinte, o crescimento foi menor, de alguns milhões de unidades, e de 2018 para 2019, ficou praticamente estagnado em 1,5 bilhão.

A previsão é de que, até o fim de 2019, o mercado global de smartphones testemunhe a sua primeira queda em número de vendas em mais de uma década. Outras apostas das empresas de tecnologia, como o tablet e o relógio inteligente (smartwatch) não conseguiram, até agora, sucesso semelhante.

O caso do tablet é especialmente decepcionante para a indústria. Após o lançamento do primeiro iPad, em 2010, o pico do segmento foi atingido em 2013, quando 77,2 milhões de aparelhos do tipo foram vendidos. Depois disso, a trajetória tem sido de queda contínua.

O que tablets e smartphones têm a ver com os dobráveis? Segundo as principais fabricantes, aparelhos como o Galaxy Fold não são celulares nem tablets, mas formam uma nova categoria de dispositivos móveis que tende a unir o melhor dos dois mundos em um só dispositivo.

O próprio Galaxy Fold, por exemplo, quando aberto, possui uma tela interna de 7,3 polegadas, o que pode ser considerado um tablet. Mas, quando dobrado, ele pode ser colocado no bolso e carregado facilmente, com a simplicidade e versatilidade de um smartphone.

Telas gigantes

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O formato dobrável também resolve um problema recente de design: as telas de smartphones têm ficado cada vez maiores. Enquanto o primeiro iPhone chegou ao mercado em 2007 com uma tela de 3,5 polegadas (que Steve Jobs chamou de “enorme”), o último aparelho da linha, o iPhone 11, anunciado em setembro, tem uma versão com 6,5 polegadas.

O principal desafio das fabricantes nos últimos anos tem sido o de ampliar o tamanho da tela sem sacrificar a usabilidade do celular. Assim, as bordas dos aparelhos começaram a ficar cada vez menores. Botões foram eliminados, como no iPhone X. Sensores, como o de impressão digital, foram colocados dentro da tela – caso do Galaxy S10.

Já a câmera frontal virou objeto de malabarismo. Em alguns modelos, como o Zenfone 6, da Asus, o mesmo conjunto de câmeras traseiro tem um mecanismo de giro que permite que ele seja utilizado para selfies. E modelos chineses, como o OnePlus 7 Pro, apostam em um sensor retrátil que se esconde dentro do celular e só sai na hora de bater a foto.

Mas há um limite de até que ponto as fabricantes conseguem expandir a tela sem sacrificar a usabilidade. Entra em cena o dobrável, resolvendo dois problemas ao mesmo tempo: o declínio do tablet e a estagnação do smartphone, com um formato diferenciado para chamar a atenção do consumidor.

Em entrevista à Exame, Antonio Quintas, vice-presidente da divisão de dispositivos móveis da Samsung no Brasil, definiu a função do Fold no seu portfólio: “Queríamos fazer algo diferente, definindo um novo padrão em que a tela não é mais limitada pelo tamanho do dispositivo, e assim permitir aos usuários que façam, vejam, aprendam, criem e experimentem mais”.

Tem futuro?

Paralelamente aos smartphones dobráveis estão as TVs de tela flexível. Por enquanto só existem na forma de protótipo de uma só empresa, a coreana LG, que promete colocar o seu modelo à venda ainda este ano.

A TV “enrolável” da empresa tem uma proposta muito mais clara, porém: a ideia de poder enrolar e guardar a tela da sua televisão quando não a estiver usando, e assim economizar espaço na sala de estar.

No entanto, segundo um estudo da Display Supply Chain Consultants, dos EUA, aparelhos de tela flexível devem saltar de 1,6 milhão de unidades vendidas em 2019 para 66 milhões em 2023. E nessa conta não entram outros produtos dobráveis, como as TVs.

Ricardo Mendoza, analista de dispositivos móveis da consultoria IDC, duvida que os dobráveis sejam capazes de atingir o patamar dos smartphones de tela rígida no curto prazo. “Por enquanto, haverá um mercado específico para os dispositivos dobráveis, em função de barreiras como o preço e as possibilidades de uso”, disse, em nota à imprensa.

O Galaxy Fold, único smartphone dobrável disponível para a venda globalmente no momento, ainda não tem previsão de lançamento no Brasil.

(Yahoo Notícias)